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A necessidade do "Deserto"

Nossa existência é feita de ciclos... Altos e baixos. Idas e vindas...de marés e de luas, de tormentos e também de momentos felizes. Quando a dor aparece, existe o tempo da "reclusão", do afastamento da rotina, e dessa necessidade do "deserto" em nossas vidas. A dor pode ser o término de um relacionamento, a perda de algo ou de alguém muito querido, a frustração com alguma situação financeira ou profissional, enfim, qualquer acontecimento que cause sofrimento. Automatismos naturais, fazem o Ser isolar-se e procurar os motivos que levaram a esse momento de crise. É nessa hora, a necessidade do "deserto", da reflexão do isolamento, para buscar respostas. O encontro com a verdade se dá neste período, quando a pessoa está disposta a admitir suas sombras, seus erros e defeitos, e após aceitá-los, traçar novas rotas, para um recomeço. Podemos dizer que, as melhores escolhas da vida, são feitas no "deserto", durante esse período de recolhimento. Segundo estudos espíritas, o termo correto para a passagem do livro de Mateus, onde Jesus foi "tentado" no deserto, em hebraico, é "provado", ou seja, nosso Guia e Modelo estava refletindo sobre sua missão, sobre o que deveria fazer, nesse momento de autoencontro. Deus também descansou no sétimo dia! O mesmo acontece com nós, somos provados e nos "recolhemos" para pensar. Para haver uma mudança de atitude, é preciso procurar novos caminhos, para que os resultados sejam diferentes. Essa necessidade do "deserto" em nós, está intimamente ligada ao nosso autodescobrimento, autoconhecimento. No livro o Ser Consciente de Joanna de Ângelis, ela diz: "O autodescobrimento é a terapia salutar para que sejam identificadas as causas geradoras, e ao mesmo tempo, a conscientização de quais recursos se podem utilizar para a libertação." Ou seja, para a mudança de panorama em nossas vidas. E continua..."Meditar, beneficiando-se com o autodescobrimento e tornando-se um agente de esperança e de paz, eis como viver sem morrer e morrer para perpetuar a vida". Com esse movimento, o Ser amadurece, evoluindo em suas conclusões, que o fazem encontrar os erros e esforçar-se para não voltar a cometê-los. Essa ida ao "deserto" seria uma espécie de viagem para dentro de nós mesmos. Aquietar a mente e estudar de forma íntima, nosso Eu interior. Como tudo que em demasia faz mal, essa experiência deve ser provisória e breve, ou seja, ir para o "deserto", viajar para o íntimo, mas logo retornar e agir, para não se transformar em doença, solidão ou até mesmo depressão. Como uma criança pequena, que cai, se machuca, chora muito, e ao olhar para os lados e perceber que não há ninguém para erguê-la, consegue com suas próprias forças, se levantar e continuar a brincar! Temos que ser assim, fortes em nosso propósito, sabendo que o caminho é exclusivamente nosso. Nossa melhora espiritual e moral, irá beneficiar primeiro a nós, depois ao nosso próximo. Esse "deserto" também pode ser o momento de oração, de meditação, de prece, de encontro com Deus.

E para refletirmos sobre isso, vamos terminar com uma parte do texto de Santo Agostinho, do Evangelho Segundo Espiritismo. "...No recolhimento e na solidão, estais com Deus. Para vós, já não há mistérios; eles se vos desvendam. Apóstolos do pensamento, é para vós a vida. Vossa alma se desprende da matéria e rola por esses mundos infinitos e etéreos, que os pobres humanos desconhecem. Avançai, avançai pelas veredas da prece e ouvireis as vozes dos anjos. Que harmonia! Já não são o ruído confuso e os sons estrídulos da Terra; são as liras dos arcanjos; são as vozes brandas e suaves dos serafins, mais delicadas do que as brisas matinais, quando brincam na folhagem dos vossos bosques. Por entre que delícias não caminhareis! A vossa linguagem não poderá exprimir essa ventura, tão rápida entra ela por todos os vossos poros, tão vivo e refrigerante é o manancial em que, orando, se bebe. Dulçorosas vozes, inebriantes perfumes, que a alma ouve e aspira, quando se lança a essas esferas desconhecidas e habitadas pela prece! Sem mescla de desejos carnais, são divinas todas as aspirações. Também vós, orai como o Cristo, levando a sua cruz ao Gólgota, ao Calvário. Carregai a vossa cruz e sentireis as doces emoções que lhe perpassavam na alma, se bem que vergado ao peso de um madeiro infamante. Ele ia morrer, mas para viver a vida celestial na morada de seu Pai. – Santo Agostinho. (Paris, 1861.) Pedi e obtereis. Assim seja.


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